A sugestão da professora para a aula que se sucederia era
falar sobre sexualidade e a atividade consistiria em todos escreverem em
pequenos pedaços de papel suas possíveis dúvidas quanto ao assunto. Ela recolheria
e depois redistribuiria misturando-os e dessa forma, muito possivelmente,
haveria uma troca de papéis entre os colegas que leriam em voz alta o
questionamento que haviam pegado e também dariam suas possíveis respostas
diante do mesmo.
Logicamente, as perguntas que surgiram foram do tipo
libertinas, ávidas pelo ato sexual praticado utopicamente em sala de aula. Todos,
em suas questões, acenavam para a excitação que lhes formigava o interior de
suas calças. Uma questão, porém, não obteve o mesmo êxito que todas as outras
quanto à devida atenção a elas: a sexualidade, em seu sentido mais amplo
(poder), pode explicar a corrupção?
A tal pergunta não foi sequer percebida pela turma
fervorosa em palavras eróticas. Quando lida, foi como um assovio num show de
rock. Ecoou vagarosa e passageira por entre aquelas pequenas mentes acreditadas
estarem no programa “Altas Horas”. Quem foi que teve a ideia de atrelar a
sexualidade à antropologia e fazer tal questionamento? Louco, só pode ser
louco, ou no mínimo desatento em relação à sociedade da qual faz parte e que,
provavelmente, lhe causa tédio! Quem quer tentar explicar o Brasil? É muito
melhor disfarçar diálogos que possuem ideologias sexuais nada naturais,
produtos de uma apologia mesquinha e completamente oportuna, frutos de uma
relação bastante recíproca entre mídia grosseira do povo e povo grosseiro da
mídia.
Será que a sexualidade pode explicar a corrupção? Não sabemos,
mas, se percebermos que a corrupção é a busca incessante pelo poder e que o
poder é tão puramente refém da necessidade de nos mostrarmos feito pavão ao
sexo oposto ou (com pesar) ao mesmo sexo e que isso é o topo de uma pirâmide
naturalmente construída, talvez possam pensar no assunto. Mas, pensar no
assunto? Para quê? Explicar e diagnosticar para remediar a corrupção? Para quê?