terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

FIQUE TRANQUILO!

            Há cerca de alguns meses ocorreu comigo um episódio que mudou profundamente a minha vida e a forma como eu passei a perceber as coisas. Este é o testemunho que dou a todas as pessoas que ainda duvidam:
            Sou casado com uma pessoa maravilhosa há dez anos, a melhor pessoa que pude conhecer, a melhor e mais perfeita que Deus pode colocar em meu caminho. Pois bem, dez anos é bastante tempo e ocorre que eu e minha esposa há muito queríamos ter um fruto de nosso casamento abençoado por Deus, um filho seria a concretização de nosso eterno amor e um legado que daríamos ao mundo. Inúmeras foram as vezes em que conversamos a respeito do assunto, este era um sonho que permeava o nosso imaginário. Pensávamos como seria ter o nosso filho em nossos braços, fazíamos planos sobre sua educação, sobre as brincadeiras que faríamos juntos, sobre quais seriam as roupinhas que vestiríamos nessa criança amada e que ainda nem mesmo existia.
            Começamos com as tentativas para engravidar com a devida orientação médica, porém, com o tempo, percebemos que não seria nada fácil, pois tínhamos alguns obstáculos gigantes que teríamos que transpor para que o grande milagre acontecesse. Após uma investigação mais profunda acerca do tamanho dos problemas com os quais teríamos de lidar, admito que uma enorme frustração e tristeza nos abateram profundamente. Não seria nada fácil. Fomos de profissional em profissional, cada qual com sua característica e maneira de tratar o problema, porém todos unânimes em afirmar que da maneira natural dificilmente teríamos o nosso filhinho. Enquanto alguns acabavam por dar cabo às nossas esperanças, outros ao menos ainda sugeriam uma fertilização in vitro, o que, a certa altura, ainda dava um pequeno fio de esperança, porém, ao tomar conhecimento dos valores cobrados por clínicas de fertilização por esse tipo de procedimento, víamos o nosso sonho arrefecer cada vez mais, pois não tínhamos condições financeiras para bancarmos o tratamento.
            As portas iam se fechando uma após a outra, e o sonho ia ficando cada vez mais distante. Embora tivéssemos a consciência de que mesmo não podendo ter um filho, ainda assim já éramos uma família de duas pessoas (assim eu falava para a minha esposa, na tentativa de tentar consolar não somente a ela, mas a mim também), aquele inconformismo e aquela tristeza não abandonavam o fundo de nossos corações. Depois de muito conversarmos e chegarmos à conclusão de que seria praticamente impossível termos o nosso filho, decidimos que em último caso pensaríamos em adotar uma criança. Mesmo que este seja um gesto de amor dos mais lindos que possa existir, o fato de não podermos gerar um filho nos causava um sentimento de um puro vazio em nossos corações, mas nunca deixamos de ter ao menos uma pequena pontinha de fé, ainda que ela existisse no ponto mais distante de nossos sentimentos, embora esta fosse remota, havia um último suspiro de esperança.
            Minha esposa decidiu ir a mais um profissional, porém a experiência foi num primeiro momento terrível, pois o mesmo foi sincero sem delicadeza alguma, a sua afirmação de que tínhamos que buscar uma ajuda mais específica foi o último golpe desferido em nossas pretensões. Lembro-me de ouvir minha esposa chorando ao telefone, me contando sobre o que o doutor havia falado a ela. Eu tive raiva naquele momento, achei que este profissional tinha sido um tanto grosseiro, mas hoje percebo que suas palavras e a forma como foram ditas foram cruciais para que, ao invés de desistirmos, adotássemos outra estratégia. Fomos até uma clinica de fertilização!
            Ao longo das consultas aqueles medos terríveis que nos ameaçavam foram aos poucos ficando menores e começávamos a ter novamente esperança, pois acabamos descobrindo que os tais obstáculos já não eram tão gigantes assim e que, na verdade, estávamos procurando a solução por caminhos errados, talvez por medo ou quem sabe até por falta de informação, mas estávamos longe do caminho certo.
            Depois de alguns poucos e simples procedimentos, finalmente engravidamos! A alegria transbordou em nossa existência! Minha esposa acordou em uma madrugada após ouvir uma voz que disse a ela com todas as letras: acorda, você está grávida! Ela sem nem pestanejar saltou da cama e tratou de fazer um dos testes de farmácia que tínhamos em casa e o resultado foi o tão aguardado positivo.
            Tudo ia muito bem, estávamos maravilhados com o que havia acontecido, porém, na primeira consulta com exame de imagem em que minha esposa foi, a notícia não poderia ter sido pior, as palavras da médica foram estas: o saco gestacional do bebê de vocês tem contornos muito irregulares e esta gestação dificilmente vai vingar! Eu não estava com minha esposa quando a doutora falou isto, eu queria muito ter estado, mas meus compromissos com meu trabalho fizeram com que isto não fosse possível. Quando minha esposa me ligou para contar como havia sido a consulta eu estava visitando um dos clientes da empresa de meu pai para qual trabalho. Lembro-me de, após finalizar a visita, ter entrado em nosso carro e ter ficado sem ação alguma, o chão parecia ter desaparecido debaixo de meus pés, uma angústia nunca antes sentida havia tomado meu ser. Eu estava perplexo e sem forças para reagir, depois de tanta peregrinação de consultório em consultório e quando finalmente havíamos conseguido, uma notícia dessas nos assola, me vi diante do abismo e só podia pensar no sofrimento que minha esposa estava passando naquele exato momento, mesmo que ela tivesse tentado demonstrar tranquilidade ao telefone, eu sabia que ela estava profundamente triste com aquela situação. Eu ainda tinha mais visitas a fazer naquele dia fatídico e tentei pelo menos dar continuidade ao meu trabalho. Eu e minha esposa sempre acreditamos em Deus e em sua capacidade de tornar o impossível em possível, e sabemos que Ele nunca realiza milagres pela metade. Foi então que fiz a oração mais pura de toda a minha existência.
            Durante o trajeto que levava ao próximo cliente eu fui orando e pude perceber que num determinado momento aquela angústia que me sufocava o peito foi ficando cada vez menor e minha conversa com Deus estava me deixando mais calmo diante daquela situação, foi quando, para minha completa surpresa, Deus falou comigo. Um caminhão apareceu do nada andando em minha frente, bem devagar, e havia um letreiro bem grande em sua traseira que dizia assim: FIQUE TRANQUILO! Eu nunca havia chorado de alegria da forma como eu chorei naquele exato momento, pois uma felicidade súbita tomou conta de meu coração e estava me sentindo tão leve quanto uma pluma. Deus me disse para ficar tranquilo, que tudo daria certo! No mesmo momento liguei para minha esposa e contei o que havia acontecido. Falei a ela para que buscasse ficar bem e acreditar no que Deus havia dito, pois tudo ficaria bem. Foi difícil driblar o meu instinto de duvidar das coisas. Uma voz ecoava em minha cabeça dizendo que eu estava louco em pensar que Deus havia falado comigo daquela maneira tão explícita, a voz dizia que era coisa da minha cabeça. Lembro-me de ter que lutar contra este sentimento, pois ele queria ser maior do que o sentimento de ter fé no que havia acontecido. Esta voz era a voz do inimigo, disto eu tenho certeza! Mas nós acreditamos no fato ocorrido e fomos poucos dias depois fazer um novo exame de imagem em um  hospital famoso na região por seu atendimento de qualidade. Eis as palavras do médico que fez o exame de imagem naquele dia: o saco gestacional está com contornos regulares, o bebê tem batimentos, e mede 1,5 cm, não há risco de aborto eminente, a gestação está normal! Estas palavras soaram como a mais bela canção aos meus ouvidos e aos ouvidos da minha esposa. Dou graças a Deus Pai, a Deus Filho e a Deus Espírito Santo, por toda sua bondade e pela maior benção que nos concedeste!

            Deus fala da maneira que cada um pode perceber. Para mim, a resposta veio num letreiro de caminhão, pois esta era a minha realidade. Eu dirijo muito, passo a maior parte do tempo no trânsito do que em casa, meu carro é meu escritório de trabalho e esta foi a maneira que Deus escolheu para me dizer algo, Ele sabe que eu entenderia. Esta foi a experiência mais forte que tive com Deus em toda a minha vida e sei que desde então minha vida passou a ser completamente diferente. Graças a Deus! Aleluia!

sábado, 24 de junho de 2017

Deus, sua concretude e racionalidade.

         O cristianismo e seu caráter aparentemente subjetivo abre um leque gigante sobre como o cristão justamente o percebe. Tal subjetividade, também presente em outras religiões pelo mundo, se torna num mecanismo que transforma muitos sacerdotes nos verdadeiros donos daquilo que pretendem ou entendem disseminar: a palavra de Deus. O que vemos são vários tipos de cultos cujo objetivo nem sempre é a adoração ao Pai, mas a busca por uma espécie de fuga da realidade, de um relaxamento de todos os sentidos, enfim, uma busca por um verdadeiro transe.
            Em algumas celebrações há pessoas pulando, se contorcendo, falando algo que elas mesmas acreditam ser o dom de línguas, ultrapassando os limites da ordem que precede e facilita o entendimento da palavra. A fé, ao contrário do que muitos pensam, necessita de racionalidade, de conhecimento, pois também há lógica nela. A Bíblia e seus muitos relatos e conselhos, seja no antigo ou novo testamento, traz consigo seu encaixar de peças feito um quebra cabeça. Os cristãos contemporâneos, ao lerem a Santa Palavra, geralmente o fazem desconsiderando o contexto histórico daquilo que estão lendo e aplicam uma interpretação viciada e, não sendo o bastante, levam seu aprendizado grosseiro para dentro das igrejas e empurram goela abaixo daqueles que lá vão à busca de um momento com o Pai.
            A intenção do novo cristão em participar de forma ativa do conflito cósmico no qual nos encontramos é apreciável, mas às vezes ao invés de ajudarmos acabamos atrapalhando. Há sacerdotes que muitas vezes parecem estar fazendo parte de um filme de ficção científica, pois abusam da ostentação de poderes sobrenaturais que eles acreditam ter. Este é um ponto muito delicado. Estamos a falar aqui sobre possessões demoníacas que supostamente se manifestam dentro das igrejas. Sim, querido amigo cristão, as possessões existem e de fato podem se manifestar diante de centenas de pessoas num culto, mas há casos verdadeiros de possessão e há casos em que a intenção do sacerdote naquela noite da celebração, antes mesmo dela começar, já era a de expulsar um demônio e temos dessa forma o inconsciente coletivo agindo em todos os presentes na celebração, pois tudo já havia sido premeditado. Vejamos bem, não existe uma regra que diz que em toda celebração deve haver exorcismos! Há casos em que o pastor, a passos rápidos, atravessa a Casa de Deus de um lado para o outro e com um simples tocar de mãos nos corpos ávidos pelo transe, simplesmente os tombam ao chão, numa cena já pensada por aqueles que organizaram a celebração (lembrando que o Espírito Santo não derruba, mas eleva as pessoas a Deus). Tal momento, diante da plateia atônita, se configura na confirmação dos poderes sobrenaturais do sacerdote em questão que afirma sempre não ser ele o operador daquele suposto milagre, mas sim, Deus. A celebração se dá basicamente voltada para este momento pelo qual todos, inconscientemente, esperavam, sendo assim o momento principal do culto, assumindo o papel que deveria ser do ensinamento da palavra de Deus.
            É preciso que estejamos atentos a essas armadilhas do mundo lúdico dos sacerdotes que realmente acreditam serem detentores de poderes sobre-humanos. Em suas celebrações eles pretendem assumir o papel de personagem principal daquilo que eles realmente orquestram como um verdadeiro espetáculo que só não é completo pela falta de pirotecnia. A racionalidade deve ser imprescindível ao cristão, assim como a ordem e o respeito à casa de Deus, pois ela não é lugar para gritarias!

            Querido amigo, faça da Igreja um lugar de ordem para que assim você de fato encontre a paz que tanto busca e lembre-se que você nasceu com a dádiva de ter linha direta com o Pai, sem intercessores, você não precisa frequentar um lugar que apela somente para as suas emoções e ignora sua capacidade de entendimento. Falar com Deus é muito mais fácil do que você imagina e a solidão dos seus pensamentos já basta para tanto e a nós, enquanto cristãos, resta a percepção de que Deus é concreto em sua existência e que podemos senti-lo, respira-lo, toca-lo, conversar com Ele, pois o que será o mundo lá fora e a naturalidade mega inteligente da sua biodiversidade senão o próprio Deus?

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Sensorial.

Não busqueis aos encantos da escuridão,
Pois, de ardiloso, tal caminho vos atentarás em persistência,
Ainda que da carne não vos façais pecar,
Fazei-o, então, ao roubar-lhe os olhos,
Para que os mesmos, sutilmente,
Acompanhem suas veredas falsas.
Deixais que o Pai quebre a desordem alarmante
Com o singelo silêncio da paz,
E que não mais levantem vossas vozes em desengano,
Nem vossos olhos, nem vossos ouvidos.
A fé de nada depende, a não ser de um simples sentir,
Nada busca de encontro aos olhos,
De encontro aos ouvidos,
Nem de encontro a vossas bocas.
Sintais, pois, apenas sintais,
O brilhar sublime das estrelas,
O tocar sutil do ar,
O arrastar das ondas sobre vossas pernas,
O abraço acalentador do Pai,
Pois Dele é todo o amor,
Toda paz,
Toda certeza,
Dele vem toda a segurança
Do prometido eterno,
Sintais, apenas sintais,
Pois Ele está sempre por perto.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

O Curso de Administração.

No hall, coaching, feedback,
Slides, eficiência, eficácia,
Quem administra não avalia as lâminas
Qual seja o bitolado que as faça.

Eu não gosto do Curso de Administração,

Gosto, contudo, de administrar,
Assim como não gosto da vaidade das rimas,
Contudo, tenho a ânsia de rimar.

terça-feira, 19 de maio de 2015

SOBRE A AULA DE PSICOLOGIA GERAL DO DIA 19 DE MAIO DE 2015.


            A sugestão da professora para a aula que se sucederia era falar sobre sexualidade e a atividade consistiria em todos escreverem em pequenos pedaços de papel suas possíveis dúvidas quanto ao assunto. Ela recolheria e depois redistribuiria misturando-os e dessa forma, muito possivelmente, haveria uma troca de papéis entre os colegas que leriam em voz alta o questionamento que haviam pegado e também dariam suas possíveis respostas diante do mesmo.
            Logicamente, as perguntas que surgiram foram do tipo libertinas, ávidas pelo ato sexual praticado utopicamente em sala de aula. Todos, em suas questões, acenavam para a excitação que lhes formigava o interior de suas calças. Uma questão, porém, não obteve o mesmo êxito que todas as outras quanto à devida atenção a elas: a sexualidade, em seu sentido mais amplo (poder), pode explicar a corrupção?
            A tal pergunta não foi sequer percebida pela turma fervorosa em palavras eróticas. Quando lida, foi como um assovio num show de rock. Ecoou vagarosa e passageira por entre aquelas pequenas mentes acreditadas estarem no programa “Altas Horas”. Quem foi que teve a ideia de atrelar a sexualidade à antropologia e fazer tal questionamento? Louco, só pode ser louco, ou no mínimo desatento em relação à sociedade da qual faz parte e que, provavelmente, lhe causa tédio! Quem quer tentar explicar o Brasil? É muito melhor disfarçar diálogos que possuem ideologias sexuais nada naturais, produtos de uma apologia mesquinha e completamente oportuna, frutos de uma relação bastante recíproca entre mídia grosseira do povo e povo grosseiro da mídia.  

            Será que a sexualidade pode explicar a corrupção? Não sabemos, mas, se percebermos que a corrupção é a busca incessante pelo poder e que o poder é tão puramente refém da necessidade de nos mostrarmos feito pavão ao sexo oposto ou (com pesar) ao mesmo sexo e que isso é o topo de uma pirâmide naturalmente construída, talvez possam pensar no assunto. Mas, pensar no assunto? Para quê? Explicar e diagnosticar para remediar a corrupção? Para quê? 

sábado, 11 de abril de 2015

UM ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


            Mais do que a liberdade de ir e vir, mais do que a liberdade de escolher seja o que for, a liberdade de expressão é o que garante o avanço de uma nação. Não há pátria que se perpetue de forma sólida e objetiva que não necessite de ideias, de soluções, de visões que atentem para o futuro próximo tão carente de evolução.
            A população, contudo, deve contar com o respaldo do estado e dos demais órgãos e instituições que o compõem, dentre tais podemos identificar os poderes oriundos do estado (executivo, judiciário e legislativo), as instituições feitas para a grande massa (os veículos de comunicação e, principalmente, a televisão aberta) e as instituições populares (associações de bairros e afins). Em teoria tudo isso é muito lindo! Mas na prática...
            O Brasil vive o exibicionismo de atestar que é um país receptivo e que tem como grande e principal bandeira a democracia. Tudo conversa fiada! O único respaldo que podemos identificar é o que a mídia em sua maioria dá ao governo, tentando sempre minimizar os impactos da sua falha ideologia de governabilidade. Em certos momentos, há até um pequeno disfarce para que as coisas não sejam por assim dizer tão evidentes, como, por exemplo, os telejornais e suas matérias repetidas sobre a Petrobrás. Parece até que há apenas um editor para todos os canais! Mas sem demais rodeios, vamos ao tema principal aqui precedido por tal introdução: o “politicamente correto”.
            Está na Constituição Federal, art. 5º, inciso IX, que: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Aqui caberia uma salva de palmas do tamanho do Brasil se não fosse irônico e revoltante o fato de que isso não possa acontecer na prática. Eis que a mídia criou um mecanismo muito inteligente e de uma sutileza comparável aos diálogos das grandes obras literárias que o mundo conhece. O “politicamente correto” é um verdadeiro acinte a todo e qualquer direito de liberdade de expressão. Simplesmente nós não podemos mais opinar em relação a assuntos polêmicos, pois podemos estar cometendo crimes os quais nem bem conhecemos ainda, pois são frutos de manobras recentes populistas criadas por aqueles que têm pretensões exageradas em sua vida política. Vejamos: opinar sobre o racismo nos dia de hoje pode render-lhe punições advindas de uma lei sem critérios, tudo pelo tosco motivo de se achar ou imaginar que injúrias raciais atinjam somente uma etnia de nossa sociedade, um grande erro! Para aqueles que inflam os pulmões ao falar em reparação a certa etnia escravizada no passado, caberia também lembrarem (e talvez não o façam por preconceito) de outras etnias que vindas da Europa também aqui foram escravizadas, ficando alojadas em senzalas, inclusive, trabalhando por comida, apenas. Caro leitor, muito cuidado quando tiver a condenável iniciativa de opinar sobre o homossexualismo, pois pode acabar sendo estereotipado de homofóbico. Na verdade, você é obrigado a ter um bom relacionamento com alguém que tenha como a opção a homossexualidade, caso contrário, o possível mau relacionamento poderá ser justificado pela sua homofobia que é um crime! No entanto, ninguém ousa falar em heterofobia, que é muito, mas muito presente em nossa sociedade, é que na verdade a ditadura gay vende mais novela, mais jornal, mais blogueiros oportunistas, e mais hipocrisia...
            Mas diante de tudo isso, a pátria amada parece estar sofrendo sutis metamorfoses em seus campos mais diversos. Por qual motivo a novela de horário nobre da Rede Bobo, digo, Globo, está tendo péssimos índices de ibope? Por qual motivo a população parece estar engajada em gerar o processo de impeachment da atual Presidente Sem Habilidades da República?
            Caro leitor, ao citar apenas Rede Globo e a Presidente da República no mesmo parágrafo, não é por mera coincidência que o faço, talvez meu inconsciente queira aqui direcionar minha atenção para algo que considero os dois maiores poderes dessa pátria que parece começar a querer mostrar a sua cara.

            Liberdade de expressão! Deixa-me ser politicamente incorreto!

domingo, 30 de novembro de 2014

Deus meu, Senhor meu...

De todo o mal, Te pediste que Me livrasses,
e toda angústia, pedi que arrebatasses,
pois minha alma é Tua, oh Pai,
e meus encantos são por Ti.

Destes sempre, inevitavelmente,
provas acalentadoras de Teu febril amar,
que a mim afagas a existência,
e que aos meus acaricias o repousar.

São Teus os meus suspiros,
na inerte noite em que admiro os vaga-lumes,
e os pontos trigueiros a brincar no infinito,
e o horizonte familiar, expansivos volumes,
de terra, Deus meu, das Tuas criaturas,
Tuas entranhas, Tuas figuras,
símbolos de nosso amar,
nas noites tão escuras.

Teu abraço é tudo o que espero,
nesse viver que nada sacia,
Teus anjos, eis o que quero,
e Tua celeste companhia.

Torna belo, meu apenas estar,
como O tens o feito desde que nasci,
Me concedeste o verdadeiro amar,
no dia em que a conheci.
Gratidão é tudo,
pelo caminho que apontastes,
na presença dela o universo é mudo,
e por ela minha alma renovastes.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

ORAÇÃO I

Soprai, pois, no melancólico ouvir
De apenas prantos e angústias dementes
O mais sereno e sublime cântico
Sobre vozes de exército que não impunha armas.

Teus os caminhos, ora, são mistérios danados,
Que atentam à carne como que para rasgar-lhe.

Deixastes, por certo, ó luz incessante,
Que o imundo e errante
Esbravejasse só.
Pois que ao mundo presta serviços,
Derrama sobre leitos tantos vícios
Que acabam em suplícios
E em verdades de pó.

Abraçai aos teus como filhos que são.
Vagai nos sonhos e nos devaneios do homem
Pra que de Ti não esqueçam.

AMAI AO MUNDO E CONFIAI NA HUMANIDADE.


sábado, 7 de abril de 2012

Gaúcho sem fronteira.


Do pampa seco e homicida, tal quis o destino árido ao qual se dobraram as nuvens do céu, das terras sem nome em algum lugar pelas bandas do oeste do grande torrão sulino, da era das eras, que arrebata em prostração o mais descrente dos viventes, da pequena moradia entre o interior e a cidade sem nome, um taura de sangue guapo, daquele que não fala duas vezes aquilo que bem ou mal o quer: Giuvelino Ferreira.
No bolicho do Adão, Giuvelino escancarou por entre o grosso bigode aquela boca mal servida de dentes e acabou de uma só vez com aquele martelinho da mais braba das canas que o velho Adão possuía. Já era o terceiro, mas o xiru mantinha irrepreensível a pose de quem nada tivesse bebido. Era, sobretudo, homem dos fortes, que dividia com a ânsia pelo trago de cada dia também a da peleia de cada dia. Por esse motivo, bebia sempre só. Ninguém pagava para ver o que seria dividir uns goles com o tal homem que, todo dia à tardinha, aparecia ao velho boteco na sua estica gaudéria, um trinta e oito ao lado direito da cintura, e no outro a adaga sempre muito afiada.
“Desce a última, home, que já tomo e vou-me embora, e pode pindurá o resto também, semana que vêm eu te pago.” O velho Adão, sem questionar, serviu sobre o balcão mais um trago. Não haveria, pois, de querer levar um golpe da adaga imprevisível de Giuvelino. Uma música um tanto baixa roubou a atenção de todos que ali estavam, os outros tomadores da cana logo fitaram Giuvelino com olhos já sabidos do que se tratava, e por isso, olhos que logo disfarçaram e buscaram outros pontos por entre os espaços vagos do boteco.
Ma que arruda! Essa bruaca não me deixa quieto nem por uns minuto! Vê se pode, veio Adão, nem uns trago posso tomá em paz!"
Giuvelino tateava o bolso da bombacha com demasiada irritação até encontrar o objeto dono da canção tradicionalista que, um tanto abafada, atravessava o espaço por entre as paredes sujas e mesas encardidas do velho boteco. Escutou com o desdém dos machos sabidos àquilo que a sua mulher, Zulmira, lhe dizia. Ao término do que ela disse, guardou o telefone celular de volta no bolso da bombacha, derrubou o último trago, passou a mão no chapéu e em seguida montou no zaino, rumando logo para casa.
Ao chegar, passou reto por Zulmira enquanto ela resmungava qualquer coisa direcionada a ele. Havia a necessidade de saber dos amigos, de como andavam, e Giuvelino foi sentar-se em frente ao computador. Entrou no seu perfil do friendbook a fim de ver as atualizações. Procurou pelos amigos laçadores dos rodeios da capital que há muito não via pessoalmente. Sorria espalhafatoso, se deleitava com aquela comodidade. Pôde saber do Zé Grande, do Chico Ferroso, do Oswaldo Canhoto, tudo através de míseros cliques. Trocou algumas mensagens instantâneas com alguns de seus amigos que também estavam online em seus perfis, matou saudades.
Passou grande tempo em frente àquela máquina dos sonhos humanos. Deu por conta e viu que a noite já havia se deitado por sobre o pampa. Bateu-lhe o sono e ele se rendeu indo deitar ao lado de Zulmira que já roncava profundamente.
O dia seguinte passou corriqueiro. Foi o trato aos animais, a lida no campo, o conserto da cerca em alguns pontos e logo o sol esboçou uma caída de leve por sobre o horizonte. Era chegada a hora de encilhar o zaino e rumar para o bolicho do velho Adão. Giuvelino, porém, não contava com uma das patas do cavalo machucada. Era um corte profundo, devia, certamente, ter se enroscado na cerca. O animal não podia trotear inteiro, mancava muito.
Giuvelino impacientou-se. Estava ameaçada a sua ida ao velho boteco e os martelinhos haveriam de ficar para quando o corte do cavalo cicatrizasse. Pensava em quantos dias duraria a espera, talvez algumas semanas até. Irritou-se com a situação. Para ele, comparecer todos os dias ao velho boteco era muito mais que necessidade, era o cumprimento de mais um dia de lida, exercido pelo taura com a mais sincera lealdade. Se não testemunhasse alguma novidade das que se apresentavam escassamente no bolicho, Giuvelino não dormia, o exercício do descanso durante a noite se faria desnecessário a ele.  O destino levava-lhe ao chão os tragos que por ele seriam derrubados se acaso lhe fosse permitido cumprir com a sua sina de amansador de canas. Foi então que o taura se lembrou de algo que havia comprado há pouco mais de seis meses e que, se não lhe falhava a memória, estava guardado no velho galpão.
Deu partida e foi-se ao bolicho do Adão. Quem cruzava com Giuvelino na estrada deparava-se com um gaúcho muito bem trajado, de lenço vermelho, de chapéu e bombacha, de adaga e revólver na cintura, a toda velocidade, feliz e sorridente, com a sua bicicleta a motor.
                                                                                  

O quinteto e as histórias.

Naquele verão finalmente havia se consumado a tal viagem à praia, era plano antigo de todos os cinco. Embora tenhamos ido apenas Abimael, o Soldadinho de Chumbo, Sérgio e eu, tudo andava na mais completa serenidade. O quinteto era quarteto e restava a nós ter de aprender a lidar com a falta do Gump. E ele fazia muita falta!
A característica permanente de nossa estadia no litoral era a mesma do que quando estávamos em qualquer outro lugar reunidos: muita cerveja, muita caipira e muitas e boas risadas...
Mas faltava aquele fato espalhafatoso, aquela demonstração de ingenuidade típica de cão novo. Sabe, faltava alguém para pôr a mão na parte de dentro de um suporte de lâmpada, na parte de cobre! Talvez nem mesmo o Gump soubesse de como era sentida a sua ausência por todos nós.
No último dia, o sol era maravilhosamente escaldante, uma brisa soprava levemente e o ânimo de todos era ressaltado pelo clima todo perfeito para uma boa despedida. A cerveja passava de mão em mão, de garganta em garganta. A rotina da praia seguia e nós estávamos ali como ébrios espectadores. Repentinamente, uma curiosa e familiar silueta foi avistada a uns metros de onde estávamos. O reflexo do sol nos confundiu por uns instantes, mas logo podemos perceber aqueles braços que terminavam quase nas canelas, aquelas mãos enormes. Talvez o reflexo tenha nos impedido de avistarmos um pescoço naquele ser, pois nada vimos, era a cabeça ligada diretamente ao tronco...
Corremos quase que abobados ao encontro do Gump. Tomou conta de nossas faces um sorriso talvez nunca antes tão satisfatoriamente contente. Era a cereja do bolo que aparecia, era o quinteto que se completava. Feitos os cumprimentos e os abraços calorosos, estávamos todos ali à beira do mar, vendo, sabe-se lá, o que passar.
Cinco era o nosso número e cinco também era o número de algumas gurias que, num quiosque perto dali, nos acenavam todas sorridentes. Fomos até elas.
O tema das conversas paralelas que aconteciam entre nós e aquelas gurias era muito variado. Mas, realizados os desdobramentos, sendo eles sobre religião ou não, decidimos todos nós, os cinco machos praianos e estupefatos, nos banharmos no mar.
 Hollywood certamente nos invejaria naquele momento. Não corríamos, troteávamos em direção ao mar, era uma ida cinematográfica rumo às águas salgadas do imenso Atlântico e todos sustentávamos interiormente todo aquele charme. Em dado momento, pensei estar fazendo parte da cena de algum filme em que o mocinho entrava insinuante no mar para depois aparecer sedutoramente molhado, mas não foi nada disso. O Sérgio entrou, depois o Soldadinho de Chumbo, eu logo após, o Abimael já abria os braços para conversar com as ondas e, subitamente, um estardalhaço chamou a atenção da praia toda. A nossa glória de galãs globais mediante àquelas fêmeas estava arranhada. Olhamos estáticos para trás e vimos o Gump há pouco mais de trinta centímetros mar adentro levantar tonto, com a mão a esconder o nariz bastante esfolado e também a sua barriga. Incrédulos, nós não rimos, nós tivemos ataques súbitos de gargalhadas. Um de nós já nem mais gargalhava, mas gritava e apontava com o dedo para o Gump, a fim de que todos pudessem saber do autor daquela grande barrigada. A praia paralisou-se. Muitos desconhecidos também sorriam, gargalhavam. Lembro de ter visto o pai puxar pela mão a pequena filha e levá-la para fora da água, para longe do Gump, devido ao impacto assustador daquela cena, a criança, pois, poderia se traumatizar tamanha a suposta loucura daqueles rapazes.
Ao justificar-se, mesmo que isso fosse desnecessário, Gump havia nos dito que automaticamente pensou em dar um ponto quando molhou os pés na beirinha da água e o fez. Ora, pobre dele que não soube diferenciar o mar de uma piscina pública...
O fato ocorrido naquele último dia de praia foi, certamente, um dos mais engraçados que aconteceu conosco. Claro, há outras histórias, outros autores (como aquele que pegou as havaianas e...), mas a barrigada do Gump marcou demais como um grande momento cômico do quinteto.
Quando velho, quero contar aos meus netos sobre o acontecido, mas também quero dizer que sem qualquer um de nós, muito menos o Gump, aquele pequeno grupo não era animadamente completo. Apesar de ambos terem seguido, acertadamente, os próprios caminhos, o Abimael, O Gump, o Sérgio e o Soldadinho de Chumbo, bem sabem de como éramos e assim como eu, às vezes devem lembrar com a saudade mais feliz do mundo das nossas histórias. Bons os tempos de quinteto...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O mendigo.

O palhaço Clown seca o suor que lhe escorre por cima do olho esquerdo, atenta para o sinal e o percebe ainda verde. Confere os pinos de malabarismo. Encontra todos os quatro, como sempre. Um e outro automóvel quase acerta suas pernas timidamente dispostas por sobre o asfalto quente, ao meio fio. Esbraveja para o sol que queima seu rosto e lhe desanda a maquiagem. Pega o espelho: um pequeno retoque. Percebe que o sinal fica amarelo. Levanta. Rapidamente, pega sua pequena e suja latinha, também os pinos e espera uma fração de segundo. O sinal fica vermelho. Encaminha-se a poucos passos para o meio da pista cinzenta: o seu palco. O palhaço Clown cumprimenta, com reverência, a plateia impaciente. Começa o seu número.

Os pinos voam alto, apenas três. O palhaço Clown é preciso, os movimentos são, para ele, de natural desenvoltura. Ele mantém-se dominador. Há, porém, um sorriso brejeiro naquela face cuja pele, com certa flacidez, demonstra seus, quem sabe, quarenta e cinco anos. As pessoas apáticas em seus carros formam a plateia indigna da arte, resultam na ausência de percepção que faz tola a própria existência.

A velocidade do número aumenta e o poeta do sorriso compõe seus versos esvoaçantes agora com os quatro pinos. Não há dificuldade no semblante daquele menino, mas, altivez. Ele brinca, ele brinda a plateia inerte com o seu sorriso inocente. Um pino cai ao chão. E outro também. O palhaço Clown os ajunta e prossegue com a sua apresentação. Alguns carros buzinam lá atrás, logo o sinal ficará verde. Alguma voz resmunga algo naquela fileira poluente. O palhaço Clown continua. Os pinos voam, o suor lhe arde no olho. A roupa lhe gruda como uma segunda pele, quente, porém, muito quente. Ele tem mais sede que fome. Os pinos voam rápidos, rodopiantes. As vozes agressivas se multiplicam e também as buzinas. O Palhaço Clown precisa agir rápido.

Junta os pinos, pondo-os sobre o asfalto. Pega a latinha e se vai. A primeira janela se lhe fecha e ele vai para segunda: outro rosto que o ignora. A terceira janela e o vidro que fecha, o desdém da mulher e seu ar condicionado. Um barulho de metal! O palhaço Clown examina o asfalto e encontra uma pequena moeda de dez centavos que alguém o jogara. O sinal abre.

Os carros arrancam rumo ao fim do dia, rumo ao fim da vida. O palhaço Clown respira a fumaça daquelas máquinas dirigidas por máquinas. Ele recoloca-se ao meio fio, a tempo de que não seja mais uma estatística da mortandade no trânsito. Senta-se.

Examina a latinha, com aqueles dez centavos que juntara do chão pôde formar um montante de três reais e sessenta centavos. A tarde caminha para a sua metade final. Confere os pinos. O sinal fica amarelo.

sábado, 13 de agosto de 2011

O que era belo...

Em cólera fez-se aquele tal pranto,
Pedra soberana agora, furor.
Um quebrante das mesmices do amor,
Minha nova face, meu por enquanto.

Sujo e tão singelo, meu amargo passado,
Contemplação cega ao céu de outono...
Sou sangue incrédulo, meu próprio dono,
Já não me torturo de embasbacado.

Das sobras mortas do que eu pretendia,
Só o teu sorriso pra minha alegria:
A lembrança cruel de um sonho quente.

Me fora a sorte fugaz, fora ardente,
E hoje o tempo já não me traz o engano,
E o que era belo me surge profano.

Canção alada.

Cantam as noites vadias
Num assovio de despedida,
Sempre o mesmo acorde triste,
Oh, treva desmedida!
Cá, no meu estar solitário,
Sou a coruja embriagada,
A sussurrar tão melancólica,
Minha canção alada.

Cortejo.

Teu rosto
É de meu gosto,
Teu sorriso me ilumina.
Mas por oposto,
Sou desgosto,
E teu desdém me desanima.

Plano das convicções: soneto imperfeito.

Guardas de prelúdio mera inocência,
Porém atentas pro mal que te investem.
É que voraz se faz da displicência
A mesquinhez dos que muito padecem.

Falam, falam, falam... Enlouquecidos!
Tolos de alma, rochas de coração,
Os que permeiam sós e aborrecidos
As veredas falsas da imensidão.

Dos néscios, na sua cooperação cega,
Vem sempre o incauto de não saber amar.
Falsidade e morbidez, sua entrega,

Andam juntas e sem querer cessar.
Há, contudo, um plano que desconhecem,
Onde a sua demência não pode estar.

Das tuas aflições.

A maldade que me afronta o bom-senso,
Turva-me o caminho e o tino da razão,
São as palavras que te lanço intenso:
Mais do que ditas, adjetivos de aflição.

Amor e ódio andam sempre juntos,
É o que gemem os chacais do espelho.
Bem o sabem que por ora fajutos
São todos os seus desmiolados conselhos.

Por agora desejo o castigo arrasador,
Pois sustenta quem me ama, espinhos de amor,
Num estar às vezes melancólico, de agonia.

Na espera por minha bondade arredia,
Verte o sangue ao invés das lágrimas
Por um amor envolto em lástimas.

domingo, 27 de março de 2011

Sou capaz de certas coisas...

Sábado à noite, momentos antes de extremos, agora, pois, de remanso puro da alma. Aliás, vale-me lembrar que todas as noites do sétimo dia da semana têm sido basicamente iguais (águas paradas e serenas, radicalismo muito abaixo ou inexistente) e não faço queixa por isso.

Cabe também lembrar de uma destas noites transcorridas em data que não mais recordo, mas cuja qualidade das horas passadas não me escapa ao pensamento.

Primeira noite de outono, aquela, como em todas as noites do resto do ano, em que a metade mais velha da cidade dorme e a outra metade bem mais entusiasmada faz sabe-se lá o quê. Bem, digamos que eu estivesse entre estes dois grupos, pois não os anos ainda haviam me chupado a vivacidade do semblante e tampouco me fervia o sangue pela busca incessante de algo que nem mesmo eu sabia.

Como amigo, apenas o velho e bom violão, e velho porque realmente já tinha certa idade, mas ainda permitia aos meus ouvidos o mais belo tom. Como coadjuvante pontual, a TV, pelo fato de que a certas horas daquela noite um canal cultural exibia o filme “Neto Perde Sua Alma”. Fazia-me submisso à insônia que outra vez me abatera e que desta vez trouxera consigo um sossego tão poucas vezes experimentado por mim. Certamente me acompanhava um mate muito oportunista, cuja chaleira esquentara a água já pela segunda vez. Eu era a calmaria muito bem encaminhada, de uma serenidade costumeira aos momentos que antecedem as deixas artísticas trazidas muitas vezes de lugar nenhum.

Como era um deleite o dedilhado que volta e meia tirava do violão, e foi assim a noite toda. Os acordes eram de uma intimidade assustadora uns com os outros, pareciam uma só nota, alterada tão sutilmente de dedo em dedo a ponto de soprar aos ouvidos como leve brisa que encanta a alma. Há certos tempos atrás era a confusão que me despertava a arte e agora a passividade do silêncio era apenas interrompida por acordes solenes. Havia beleza naquela noite.

Eu nem mesmo apelava à natureza que certamente lá fora haveria de cumprimentar-me com um aceno único, exclusivo do momento. Era ali, naquela pequena casa, naquele pequeno espaço, naquela pequena mesa sobre a qual também repousava um exemplar de “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, que a beleza dava as caras.

No quarto, ainda mais belo que de costume, esperava-me o anjo a quem Deus confiara todo o amor da sua criação.

Nada mais haveria de querer, fazia-se perfeita aquela debandada das horas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Canção para estrela solitária.

Menininha, por que choras,
Por que fazes assim?
Quero saber-te, tão agora,
Acaso sou-te ruim?
Menininha, por que choras,
Se tens meu coração?
Esqueça o mal que lá fora
Enreda a multidão.

Ironia.

Vejo que o entusiasmo fugiu-te à alma
E que não mais ostentas o brilho de outrora.
É triste ver o que os segundos te fazem,
São dias para ti já escritos...

O dia de hoje me faz sentir
Que jamais existi em teus pensamentos,
E que jamais também fui um desejo teu.
Deixei de ser anjo,
Hoje te assombro,
Parece-me...

Cólera por tua injustiça,
Cólera pela vida a mim estranha,
Cólera por minha existência!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quem exclama, não sabe que reclama de si.

Miserável este adoecer
Aos poucos, sorrateiro,
Como que pronto para o bote.
Não há nos tempos quem note
Que adoecemos vaidosamente
Num estribilho incessante,
Todo o dia cantado
De forma dolorosa.

E o pássaro jamais fizera uso de suas asas...