terça-feira, 19 de maio de 2009

Ao homem o que é do homem.

Deus, o Criador,
Em sua completa onisciência,
Fez-nos filhos do amor
E também da incoerência.
Pois Aquele que tudo sabe
E que tudo pode ver,
Há de consentir que não acabe
O desejo nosso de nos perder.
Pois é que reina soberana
Desde o início do tempo,
Uma tal liberdade humana
Que lhe aponto por momento.
Única razão de todo mal,
De toda dor que se conhece,
Há de ser manobra inicial
P’ra sorte suja que o homem tece.
Mas não me torça tu o nariz
Quando aqui cair os olhos teus,
São apenas palavras de aprendiz
Que jamais quisera culpar a Deus.
Se por ventura este poema
Venha trazer-lhe tal juízo,
Que Deus encurte minha cena,
Lance-me fora ao paraíso.
Mas antes de julgado
Permita-me o porque destes versos:
Pois digo que não há culpado
E que apenas brincamos no universo.

domingo, 17 de maio de 2009

Algo sobre amizade.

Interessante, caro amigo,
Que com o tempo se ganha o apreço das pessoas,
A amizade, não eterna,
Ainda assim lhe dá o prazer das coisas boas.
Na companhia, tão alegre,
Aproveita-se o instante como o derradeiro,
Contudo, frente a frente,
Há quem dissimule o falso em verdadeiro.

Logo,

Vê que somos um velho retrato
De feição mesquinha e desagradável,
Que na busca egoísta de não sei o que,
Procura sempre um novo querido e afável.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Fuga.

Que essa noite me traga a dose incerta
Da bebida santa, o espesso fel,
Que me venha logo a solidão aberta,
Que me sejam os delírios todos em papel.

Cai-me bem a névoa calma,
O desejo em pêlo, proferido há tanto:
Observaste, olho nu, rebelde alma,
O céu, as estrelas, único manto.

Tão cedo foste, criatura atenta,
Previdente da mais impura ambição,
Que corrói a carne, percepção aumenta,
Desarticula o sentido, a oração.

Sejamos ambos mero artifício
Ao olhar da coruja, que prediz o medo,
Pois me encanta muito teu suplício
Que a mim também me veio cedo.