quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os sentimentos.

A mim as sobras vivas que de meu corpo brotam,
Que vagam insanas por toda minha essência,
Denunciam os estados que ora me amolam,
Revelam as contradições de minha consciência.

domingo, 29 de novembro de 2009

Escreveria sempre.

Ainda que o ar já não me fosse esperança,
Ainda que não houvesse esperança,
E o tempo me dobrasse em pó fétido,
E a escuridão tomasse as rédeas de meu andar.
Ainda que todo carinho não me bastasse,
Ainda que toda sorte por certo me faltasse,
E o fio solitário de crença se fizesse descrente,
E uma só vez os olhos não pudessem ver.
Ainda que voz minha ressoasse única no horizonte,
Ainda que tombassem os planos de minha fronte,
E o desejo brejeiro escasso fosse por mero tempo,
E o ímpeto confuso de minhas veias cessasse.

Todo mal agora pode me confrontar,
Pois outro plano a soberania alcança,
A mim apenas a força por poder registrar:
Relatos profundos de pequena criança.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Concepção de vida.

Como quem suscita vida vivida,
Eis a fronte erguida, calma, linear.
Aos destemperos tantos e fracassos,
Todos alheios, vis, a murmurar.

Vivendo quieto, porém astuto,
Apatia falsa, externa somente.
Relata frio, fortemente,
Confusão humana, confuso mundo.

Não há idéia, não há erro,
Há serenidade solta, destemida,
Queres o ar puro e o livre querer,
Queres apenas viver a vida.

Ora pasmo, ora abastado,
De um rio repleto das opções,
Que lhe oferece o espelho dilacerado,
Que lhe oferecem todos os corações.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A todo custo...

Para a sua infelicidade,
O que eu vislumbro
Não se vê,
Não se ouve,
Não se toca,
E não está diante dos seus olhos.
Jamais fora palpável,
Jamais fora desejável.

É paralelo o meu querer,
É avesso,
É contraditório.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ao autor.

A ironia do verso
É não compreendê-lo em sua essência,
Tal como não navegar
No obséquio das possibilidades.
Também é irônico o fato
De que este mar é repleto
Dos prazeres absurdos da rebeldia.
Cabe ao criador
Que a criatura não lhe pertence,
Logo, o verso é do mundo.

Longe.

O mundo conhece a dor,
O desespero da imensidão,
O ar carregado da solidão,
O mundo conhece o amor.

Mil lágrimas lavam a tarde,
Mil sopros invadem o peito,
Mil perfeições, teu jeito,
Mil folhas caem sem fazer alarde.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Versos livres.

Eis que agora o ímpeto de tal refúgio
Vacila minha confusão,
Meu devaneio.
A solidez da aurora tão viva,
Tão agora motiva a fronte erguida
Sobre qualquer desventura.
Nada antes me fora assim realidade pura
E singela.
O encanto dos dias atuais
É o tempo que para por ela,
Prostrado ao brilho renovador
De sua face e seu todo.
Segundo após segundo
Novo ar me vem,
Sempre mais leve
E ainda mais apaixonado.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Uma das faces.

O egoísmo emudece
Toda leveza,
Cala a mente e retrai o pensar.
Por um querer possessivo,
Deveras quase agressivo,
Imaturo e infantil...
O egoísmo sufoca o amar.

Cortante as palavras
Que conflitam no campo
Febril do amar de posse,
Quebrado o coração
De quem recebe
O desvelo doentio de uma
Cegueira inerte.
Torna o relógio
Um pavor desigual
O apenas estar,
Amargurado pelas promessas
Um dia impetuosas,
E pelo sorrir submisso
E dissimulado em fragilidade.
Mera fragilidade falsa!
Mero amar sincero!


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Realidade Rude.

Vai voando ao vento
Um verso vil meu,
Livre a lapidar a lua,
Luar sereno seu...
Não o vento me chama,
Não a lua me aclama,
Não o mundo me ama.
Ama-me o espelho
Tão somente,
Realidade rude,
Quebrando amiúde
A imagem nociva
Nascente.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Vives em mim.

Bate-me à porta,
Tão viva e tão morta,
A doce Loucura,
Risonha e tão pura.
Bate-me à porta,
Tão reta e tão torta,
A amiga Insanidade,
Velha nova e verdade.

Aos olhos do Mundo,
Ignóbil e profundo,
Há loucura no verso,
Há um caminho reverso.
Aos olhos do Tempo,
Galante e sedento,
Há certeza incerta,
Há uma verdade aberta.

Aos meus olhos não há nada,
Palavra dita é passada,
Quero mais é a madrugada,
Ofegante e louco.
Pois, por certo,
Quero sempre caminho aberto,
E sempre estar por perto
De teu Amor que não me é pouco.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aos impassionais.

A emoção, por alegria ou não,
É sempre válida em seu ato febril,
É a veracidade,
É o assombro de todo recato...
Portanto,
Não me digas para não sentir,
Não me poupe das lágrimas,
Nem do teu sorriso,
Pois há dois lados,
E de ambos preciso.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tem sempre alguém...

Não me importa as tuas projeções,
Os teus relatos sobre mim,
Meu descaso é tão mortal
Que esqueces de ti mesma...

Ora, criatura perdida em boatos,
Não percebes que é em vão
Teu apontar de dedos?

Falas mais do que
Uma infinidade de beatas carentes...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Um dormir entre flores.

Caem as folhas,
Quisera vê-las,
Algo se renova sagaz,
Quisera sentir.
Pois és súbito,
Escravo do louco perfume
Que enrubesce os casais.
Diga, se quiseres,
Que por acaso nasceu o acaso...

Pois bem,
Deste acaso tão causador,
Acaso respiras ar puro... Sem dor.
Tem a abelha o ofício do mel,
E em todo caso, todo ser o seu papel.

Não retrates o que não conheces,
Pois tu quem o diz
És aquele que não enxerga as cores,
E quando a morte bater à porta,
Que seja o eterno leito
Um dormir entre flores.

Engano.

Sob o olhar cúmplice dos livros
O poeta aclama a nova ideia,
Em palco escuro e ermo, tão dele,
Perante a frigidez da plateia.
Cheio de si, galga o tempo
E também a própria imagem,
Permeia as velhas andanças
De feição hostil e selvagem.
Avesso à voz alheia,
Ao presente grego da tolice,
Faz de um sonho matéria escrita
Aquilo a que chamam pieguice.
Salve que o mundo segue,
Nada para, ninguém consente.
Não há aplauso, alívio mútuo,
É o mesmo novo novamente.
E o poeta segue seu ofício
Crendo em fazê-lo por vaidade,
Pois de inocente não avista
Que o verso é feito à humanidade.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A criação.

Vai, maldito inocente,
Erras pelo mundo de amor e ódio,
Procuras sempre loucamente
Quem te faça da vida um novo episódio!

“Cada poema que escrevo é como
Um filho que lanço ao mundo”.

O fim de um dia.

O fim deste louco dia que se aproxima
É igual àquele outro, me desanima,
Turva a visão sempre perfeita
E dá tino ao ouvido por criatura que espreita.
As flores vivas da minha insanidade
Dão-me a idéia sombria da cidade
E seus habitantes cruéis, errantes ao vento,
Artistas e seus papéis: domado é o pensamento.
Venha escuridão profunda,
Revelar a natureza demente e imunda
Do teu servo que não consente,
Sabe que a luz do dia apenas mente
E seca as lágrimas santas da consciência...
Ora, e eu,
Feito menino,
Quero a revelação nua das estrelas
Por mero caos e conivência.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Pútrida essência.

Maldito é o sangue doce que afaga a Terra,
Ébrio das boas obras, enganador sutil,
De uma mesquinhez que não se encerra,
Debilitado de amor próprio, alma fútil.

Maldito é o sorriso falso da face amável
Que desmente em ingratidão o seu resplendor,
Tão meramente um vaidoso ato inotável
É aquele feito em sujas palavras de amor.

Faz-se o tempo dos tempos um escárnio forte,
Uma escuridão eterna, imutável de estado,
Aquilo a que chamam vida é apenas morte
Uma vez que as pessoas possuem o mal disfarçado.

Façamos limpo o lago das mentiras mundanas
E que a sua limpidez nos seja alcançada,
Para que ao menos não escape as razões humanas
Responsáveis pela tragédia moral decretada.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Aos acomodados.

Se eu fosse aquele passarinho ali
Eu seria ainda mais triste,
Em grade cinza e fria
Vendo a vida passar...

Horrível é ter asas
E não poder voar,
E tolice é viver
Sem ao menos querer
A liberdade de arriscar.

domingo, 21 de junho de 2009

Coisas pequenas.

Pluma solitária,
Livre e serena,
Vem deitar nessa rua,
Rua pequena,
Que esconde um amor,
Amor puro e inocente,
Perfumado da flor
Mais bela e ardente.

Pluma pequenina,
Sutil dessa hora,
Vem ver a alma
Que se alegra agora,
Ao vento escaldante,
Um cenário perfeito,
Pois um amor flamejante
Invadira-lhe o peito.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um momento ruim.

A mim as percepções quietas
Que pairam na indecência mortal
Do cotidiano.
Dá-me de presente o amargo revelador
A certeza triste dessas meras partículas
Fétidas.
Não, não sou daqui,
Por tão pouco sei o que é a esperança,
E por ironia nada me parece novo.

domingo, 7 de junho de 2009

Alguém.

Apoderei-me do tempo,
Da vaga estranheza dos segundos,
Pra te amar
Mais do que o profeta ao seu deus.
É o encanto do júbilo desconhecido
Que me enleou.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Poema invertido.

Ei-la nua,
Desprovida,
Tão carente
Dos teus olhos,
Da tua percepção.
Ei-la sua,
Vivaz,
Simplória,
Rastejante
Ao teu desejo,
Teu coração.
Vive em ti,
Um resguardo belo
E suplicante,
Capaz
Do milagre
De um sorriso,
Mesmo que
Por um único
Instante...

“A felicidade”.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Constatação.

Viver é inexato, há dissabores,
Tolos conspurcam a vil existência,
Pesam as queixas, as várias dores,
E atos tantos de afiada inclemência.

Hedionda retórica, hipocrisia,
Quer o orador palavras ao vento,
Sedutora imagem a da teoria,
Escrita só, em ingênuo argumento.

Porém há quem saiba, enternecido,
Que a mais gloriosa das ousadias
Provém do impuro fruto proibido,
Base profética do início dos dias.

E que há de modo a vício inflamado
Uma força voraz que inquieta o peito,
Capaz de pôr feito um inútil prostrado
Aquele que não crê em tamanho feito.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sobretudo, a chuva.

Tuas lágrimas prateadas
E o contentamento das flores,
O tom que instiga o pensar,
O passado de amores...
Derrama agora
Ao leito estranho,
Inocente,
Sobre tais dores.


terça-feira, 19 de maio de 2009

Ao homem o que é do homem.

Deus, o Criador,
Em sua completa onisciência,
Fez-nos filhos do amor
E também da incoerência.
Pois Aquele que tudo sabe
E que tudo pode ver,
Há de consentir que não acabe
O desejo nosso de nos perder.
Pois é que reina soberana
Desde o início do tempo,
Uma tal liberdade humana
Que lhe aponto por momento.
Única razão de todo mal,
De toda dor que se conhece,
Há de ser manobra inicial
P’ra sorte suja que o homem tece.
Mas não me torça tu o nariz
Quando aqui cair os olhos teus,
São apenas palavras de aprendiz
Que jamais quisera culpar a Deus.
Se por ventura este poema
Venha trazer-lhe tal juízo,
Que Deus encurte minha cena,
Lance-me fora ao paraíso.
Mas antes de julgado
Permita-me o porque destes versos:
Pois digo que não há culpado
E que apenas brincamos no universo.

domingo, 17 de maio de 2009

Algo sobre amizade.

Interessante, caro amigo,
Que com o tempo se ganha o apreço das pessoas,
A amizade, não eterna,
Ainda assim lhe dá o prazer das coisas boas.
Na companhia, tão alegre,
Aproveita-se o instante como o derradeiro,
Contudo, frente a frente,
Há quem dissimule o falso em verdadeiro.

Logo,

Vê que somos um velho retrato
De feição mesquinha e desagradável,
Que na busca egoísta de não sei o que,
Procura sempre um novo querido e afável.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Fuga.

Que essa noite me traga a dose incerta
Da bebida santa, o espesso fel,
Que me venha logo a solidão aberta,
Que me sejam os delírios todos em papel.

Cai-me bem a névoa calma,
O desejo em pêlo, proferido há tanto:
Observaste, olho nu, rebelde alma,
O céu, as estrelas, único manto.

Tão cedo foste, criatura atenta,
Previdente da mais impura ambição,
Que corrói a carne, percepção aumenta,
Desarticula o sentido, a oração.

Sejamos ambos mero artifício
Ao olhar da coruja, que prediz o medo,
Pois me encanta muito teu suplício
Que a mim também me veio cedo.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Tão belo é o erro.

Que o tal ir e vir
Há muito concedido,
Permita a essas palavras
Ressoarem em teu ouvido:

Tão belo é o erro
Quanto ao que se conhece,
Pois alma que não erra
Não graceja, perece.

O diamante dos tempos,
A luz que sobreveio,
Pois que os caminhos são dois,
Então erremos ao do meio.

Não que o mundo assim
Se faça errante tão somente,
Mas o que o acerto esconde
O irmão contrário o desmente.

Que o tal fogo do medo
Não lhe queime a mocidade,
Saibas tu, que o erro
É essência pura da liberdade.

Neste caos e devaneio,
Há idéias e quem menciona,
Pois seja errôneo o vago mundo
E belo o que o questiona.

Traição de Simão.

Por três vezes, ora,
Em renúncia à própria vida...
Deu-te o medo, já agora,
Roer o tempo tua ferida e
Ostentar a eterna culpa,

Como Judas...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Questão da fé.

Àqueles que não necessitam de respostas:
Não há pecado algum em perguntar,
Pior que isso é a omissão póstuma
Daqueles que fingem acreditar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O jovem W.

Tua lágrima vai beijar a fronte do equilíbrio
E de novo percebe-te puro,
Corres da sangria à audácia num mecanismo
Que se repete, dia após dia,
Como o mordaz ofício dos urubus.

Crime contra o espelho.

Num beco escuro,
Porque os becos são escuros,
Corria de encontro ao céu toda fumaça
De seu acaso.
Entre os dedos
Somente aquilo que cabia ao bolso...
Desenhava o preto imenso um destino,
Sabiam todas as luzes da escuridão
Do teu recanto, do teu sossego,
E não negues tua fuga.
Ali, somente ali,
Ecoam melodias assassinas,
Na tua entrega, na tua esquina,
Onde tua alma não cinge mais a razão,
Teus pés... fortes pés,
Não tocam mais o chão,
Não há mais ponto de encontro,
Não há mais ocasião,
E não há mais o que ressurgir...
...ali jaz quem a si recusou.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Poema sem tema.

Eu queria escrever um poema,
Mas um poema bonito e rimado,
Eu queria, porém faltava o tema,
E a escuridão da noite me fez cansado.
As idéias co’as horas cavalgaram,
P’ra longe daquilo que me parece inspiração,
E os minutos estéreis que passaram
Farão companhia a aqueles que ainda virão.

Ora, tanta coisa eu queria,
Tanto tudo que não posso controlar,
A não ser de meus versos a rebeldia,
Inerente a mim e ao meu pensar.

Eis um poema a falar de nada,
Eis uma ausência inquietante,
São estes os versos da madrugada,
São estes um vício constante!

Da saudade.

Nessa triste estrada,
Essa que chamamos de vida,
O tempo às vezes falta,
Nos recusa a despedida.
Tal ato dói,
E a dor é por vaidade,
Até mais ou até logo: em vão.
O que resta sempre é a saudade.

Ascende um sorriso.

Por fim, fez-se o céu alegre,
E a terra destila-se em tristeza,
Gota a gota, lembra a face...
Contempla o anjo tua beleza.

Ascende agora um sorriso,
E o infinito se enobrece,
Pois já o sol mais forte brilha
Por nova estrela que aparece.

Dezessete.

Paixões atravessam a rua,
Sereno, orvalho,
Febre.
A manhã que segue atroz,
Tempo, vento,
Cólera.

Quem do mundo renuncia
Faz do amor um merecer puro.

Em suma.

Sois os seios que afagam,
Deleite de um tempo brando,
Tais os meios que propagam
União tosca de quando em quando.

Sabes exatamente,
Bem o sabes tu,
Que o amor unicamente,
Em suma, é corpo nu,
E nada mais,
E não mais...

Extirpa, triste peito,
O desejo torpe de chorar,
Pois tudo quanto estiver feito,
Não mais há de voltar,
E nem lágrimas um enjeito,
Certamente irão lavar.

Do entendimento do poema.

Entenda o poema
Como a ti, ao espelho.
O que vês?
Insensatez,
Escárnio,
A loucura do ser,
Vês no amor
Um retroceder,
Clamor...
Vês a constante luta
Da tua própria ciência,
A cada raio lúcido, displicência,
E nada mais que a vaidade...
Eis um poema,
Eis a verdade.

Faz-me a insônia um aprendiz.

Carece, oh pobre mente,
Dos versos tolos da penumbra,
Insensata, eloqüente,
Pura naquilo que vislumbra.
Atira-te só, incandescente,
Sôfrega,
Oh, pobre mente.