terça-feira, 28 de abril de 2009

Tão belo é o erro.

Que o tal ir e vir
Há muito concedido,
Permita a essas palavras
Ressoarem em teu ouvido:

Tão belo é o erro
Quanto ao que se conhece,
Pois alma que não erra
Não graceja, perece.

O diamante dos tempos,
A luz que sobreveio,
Pois que os caminhos são dois,
Então erremos ao do meio.

Não que o mundo assim
Se faça errante tão somente,
Mas o que o acerto esconde
O irmão contrário o desmente.

Que o tal fogo do medo
Não lhe queime a mocidade,
Saibas tu, que o erro
É essência pura da liberdade.

Neste caos e devaneio,
Há idéias e quem menciona,
Pois seja errôneo o vago mundo
E belo o que o questiona.

Traição de Simão.

Por três vezes, ora,
Em renúncia à própria vida...
Deu-te o medo, já agora,
Roer o tempo tua ferida e
Ostentar a eterna culpa,

Como Judas...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Questão da fé.

Àqueles que não necessitam de respostas:
Não há pecado algum em perguntar,
Pior que isso é a omissão póstuma
Daqueles que fingem acreditar.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O jovem W.

Tua lágrima vai beijar a fronte do equilíbrio
E de novo percebe-te puro,
Corres da sangria à audácia num mecanismo
Que se repete, dia após dia,
Como o mordaz ofício dos urubus.

Crime contra o espelho.

Num beco escuro,
Porque os becos são escuros,
Corria de encontro ao céu toda fumaça
De seu acaso.
Entre os dedos
Somente aquilo que cabia ao bolso...
Desenhava o preto imenso um destino,
Sabiam todas as luzes da escuridão
Do teu recanto, do teu sossego,
E não negues tua fuga.
Ali, somente ali,
Ecoam melodias assassinas,
Na tua entrega, na tua esquina,
Onde tua alma não cinge mais a razão,
Teus pés... fortes pés,
Não tocam mais o chão,
Não há mais ponto de encontro,
Não há mais ocasião,
E não há mais o que ressurgir...
...ali jaz quem a si recusou.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Poema sem tema.

Eu queria escrever um poema,
Mas um poema bonito e rimado,
Eu queria, porém faltava o tema,
E a escuridão da noite me fez cansado.
As idéias co’as horas cavalgaram,
P’ra longe daquilo que me parece inspiração,
E os minutos estéreis que passaram
Farão companhia a aqueles que ainda virão.

Ora, tanta coisa eu queria,
Tanto tudo que não posso controlar,
A não ser de meus versos a rebeldia,
Inerente a mim e ao meu pensar.

Eis um poema a falar de nada,
Eis uma ausência inquietante,
São estes os versos da madrugada,
São estes um vício constante!

Da saudade.

Nessa triste estrada,
Essa que chamamos de vida,
O tempo às vezes falta,
Nos recusa a despedida.
Tal ato dói,
E a dor é por vaidade,
Até mais ou até logo: em vão.
O que resta sempre é a saudade.

Ascende um sorriso.

Por fim, fez-se o céu alegre,
E a terra destila-se em tristeza,
Gota a gota, lembra a face...
Contempla o anjo tua beleza.

Ascende agora um sorriso,
E o infinito se enobrece,
Pois já o sol mais forte brilha
Por nova estrela que aparece.

Dezessete.

Paixões atravessam a rua,
Sereno, orvalho,
Febre.
A manhã que segue atroz,
Tempo, vento,
Cólera.

Quem do mundo renuncia
Faz do amor um merecer puro.

Em suma.

Sois os seios que afagam,
Deleite de um tempo brando,
Tais os meios que propagam
União tosca de quando em quando.

Sabes exatamente,
Bem o sabes tu,
Que o amor unicamente,
Em suma, é corpo nu,
E nada mais,
E não mais...

Extirpa, triste peito,
O desejo torpe de chorar,
Pois tudo quanto estiver feito,
Não mais há de voltar,
E nem lágrimas um enjeito,
Certamente irão lavar.

Do entendimento do poema.

Entenda o poema
Como a ti, ao espelho.
O que vês?
Insensatez,
Escárnio,
A loucura do ser,
Vês no amor
Um retroceder,
Clamor...
Vês a constante luta
Da tua própria ciência,
A cada raio lúcido, displicência,
E nada mais que a vaidade...
Eis um poema,
Eis a verdade.

Faz-me a insônia um aprendiz.

Carece, oh pobre mente,
Dos versos tolos da penumbra,
Insensata, eloqüente,
Pura naquilo que vislumbra.
Atira-te só, incandescente,
Sôfrega,
Oh, pobre mente.